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terça-feira, julho 09, 2013

Patriota de Berço

          Na Escolinha as crianças brincavam muito, correndo, pulando e gritando, estavam comemorando o Dia dos Pais e todos estavam muito felizes. Os desenhos das crianças estavam espalhados por toda a escola e um em especial chamou a atenção dos pais de Patrícia, enquanto todas as outras crianças desenhavam jogos de futebol, famílias unidas e se divertindo juntas o desenho de Patrícia era uma enorme Bandeira do Brasil com cores fortes e sua assinatura logo abaixo.
        Os pais de Patrícia acharam que a pequena desenharia a enorme família que eles possuem, ou corações e florzinhas como as outras meninas mas não, desde pequena eles percebiam que Paty era diferente das outras crianças, nas peças escolares ela sempre se pintava com as cores da Bandeira Nacional e não era muito sociável com as outras crianças, os livros que Paty levava para casa eram sempre a história de heróis que conseguiam ajudar seus países, matérias sobre atualidades e biografia de alguns presidentes que fizeram história no país onde foram eleitos, seus desenhos eram sempre brasões, bandeiras com o hino nacional, ela era diferente, nasceu com o sentimento de amor e devoção à pátria, aos seus símbolos e ao seu povo. Era Patriota desde o berço.
         Uma menina branca, estatura média tinha lindos olhos azuis com enormes cabelos longos e pretos. Patrícia foi crescendo assim, uma menina muito estudiosa e que sempre lutou por seus objetivos, na escola se destacava por textos maravilhosos sobre tudo que estava acontecendo na época normalmente envolvendo política.
         Anos se passaram e os dezoito anos de Paty estavam chegando, a mãe estava ansiosa por esse dia mais do que a própria filha, pois decidiram que seria um enorme festa já que nos 15 anos de Patrícia ela tinha feito uma viagem à Londres e combinou que aos dezoito faria uma festa para agradar a mãe. Paty não tinha muitos amigos, na verdade nenhum, ela gostava de ficar lendo na hora do intervalo e a caminho da escola escutava o bom e velho Rock'n'Roll, ela adorava.
         Na televisão só passavam as notícias de sempre, o povo indignado com tanta roubalheira e corrupção, as coisas aumentavam de preços e a qualidade não era vista de forma alguma por ninguém, Patricia se revoltava com isso, ela ficava muito chateada com tudo que acontecia e fazia várias coisas na escola para poder demostrar isso, cartazes e alguns artigos no jornal mensal do colégio sempre eram muito elogiados pelos pais dos alunos, porque o alunos mesmo não se preocupavam com isso, jogavam fora ou deixavam por aí.
        Até que começou, COMEÇOU! Os noticiários e a rádio anunciavam “AS PESSOAS ESTÃO INDO PARA A RUA PROTESTAR” o coração de Paty acelerou enquanto ela estava indo para a escola no carro de seu pai. Ele rapidamente olhou para ela e perguntou:
- O que foi, minha filha?
       A menina estava parada olhando para o nada em choque e ao mesmo tempo dando um sorriso.
- Você não ouviu não, pai? As pessoas estão indo para as ruas protestar!
- E o que isso tem a ver com você? - o pai perguntou sem nenhuma preocupação sobre o assunto.
- O QUE TEM A VER COMIGO? - a garota indignada gritou. - Eu nunca pensei que fosse estar viva para poder participar de uma coisa tão grandiosa e linda dessas.
- Quem disse que você vai participar? - disse o pai começando a ficar preocupado. - Essas coisas são muito perigosas para uma adolescente como você! Nem pense nisso.
        A menina calou-se e foi para a escola sem dizer nada com um aparência triste.
       Dentro da escola ela foi direto para o banheiro e ficou por lá um tempo chorando, ninguém foi ao seu encontro porque ela era uma garota sozinha.
       Chegando em casa ela foi assistir aos noticiários e começou a perceber que todas as pessoas estavam muito empenhadas em fazer aqueles protestos, caras pintadas, grandes cartazes um show para derrubar e fazer com que o governo e os políticos saibam que quem manda no país não são eles e sim, O POVO.
       Ela não conseguiu, armou tudo para ir a Esplanada no dia seguinte sozinha, um dia antes de sua enorme festa, sua mãe estava organizando tudo sozinha.
      No dia seguinte ela se arrumou toda, colocou uma roupa descolada e toda cheia de frases de protesto, pintou o rosto de verde e amarelo e fez um enorme cartaz com algumas frases também. Quando ela ia saindo seu pai chegou no quarto e viu a bagunça.
- Onde você pensa que vai? - perguntou o pai assustado com aquela bagunça.
- Irei lutar pelas mudanças do meu país, pai! - disse a garota.
- Eu disse que você não irá nesse protesto, é muito perigoso!
- Mas eu já tenho quase 18 e não há nada que o senhor me diga que vá fazer eu mudar de ideia. - a garota saiu de casa correndo e foi para a parada de ônibus direto para a Esplanada.
       A mãe da garota apenas perguntou ao marido aonde ela tinha ido toda pintada e ele respondeu:
- Foi para as manifestações.
       Chegando lá ela estava sozinha cheia de cartazes e um garoto se aproximou e perguntou se ela queria ajuda, ela aceitou. Era um garoto bem alto, com os cabelos bagunçados, com o rosto todo pintado, uma flor na orelha e umas roupas coloridas, parecia um hippie. No meio da bagunça o papo foi fluindo e Paty viu uma possível amizade com aquele rapaz, ela era mais velho que ela, tinha 24 anos e estava se formando em Psicologia na Universidade chamava-se Eduardo. Estava lá pelos mesmo motivos que ela e todos ali presentes, foi uma boa conversa até que houve uma enorme correria e eles se perderam um do outro.
Patricia ficou meio desanimada mas continuou com a manifestação até que foi surpreendida por um policial não muito amigável, ela perguntou o que ele queria e viu que ele e muitos ali estavam armados. Ficou com medo e saiu correndo junto com uma multidão até que reencontrou o rapaz que deu um lindo sorriso quando a viu, juntaram-se de novo e ela e o garoto levantaram os cartazes felizes e foram em direção ao Congresso Nacional. As coisas estavam começando a ficar violentas, mas em poucos minutos todos conseguiram subir no Congresso, os policiais não conseguiram fazer muito até uma certa hora.
Lá estava Patricia, toda pintada e superfeliz por saber que aquele dia iria ser mostrado nos próximos livros de história das próximas gerações quando um fotógrafo se aproximou e perguntou:
- Posso tirar uma foto do casal?
- Não somos um casal. - disse Patricia.
- Mas podemos ser! - disse Eduardo.
          Patricia ficou assustada e quando menos esperou Eduardo deu-lhe um beijo apaixonante e envolvente que foi uma experiência única, até que... o tiro foi escutado.Todos saíram correndo e nos braços de Eduardo estava a bela menina, patriota, que levou uma bala perdida perto do peito. Eduardo ficou desesperado pedindo ajuda mas era tarde, Patricia estava perdendo muito sangue e não teria como tirá-la lá de cima tão rápido, o local estava muito cheio chamar a ambulância demorou muito, Eduardo ficou com ela até prestarem socorro, mas quando chegaram o coração já tinha parado.
       No dia seguinte virou notícia, a mãe da garota inconformada e o pai se sentindo culpado por ter deixado ela sair daquela maneira tão rebelde. A foto que ela havia tirado com Eduardo foi o único registro antes de seu falecimento, era essa foto que estava em todos os jornais e nas notícias e no quarto de Eduardo. A festa de 18 anos da garota não acontecera e o velório se resumia aos familiares e a Eduardo que estava muito assustado com a situação.


         Patricia gostava de uma música do Renato Russo chamada “Love in the Afternoon” que dizia “Os bons morrem jovem”, e isso aconteceu com ela em um momento único em sua vida e um momento único em seu país, sua foto com Eduardo com certeza seria uma daquelas fotos que iriam para os livros de história de futuras gerações.

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